sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um Natal inteligente

Interessante a miríade de festas de Natal e Ano-Novo realizadas pelas empresas com seus funcionários.

A mais original e humana de todas deu-se no meu sentir com as Lojas Multisom, rede que compõe dezenas de unidades em nossa Capital e várias outras cidades.

O presidente da Multisom, Francisco Noveletto, teve a magistral idéia de lançar entre os seus 1,2 mil funcionários o seguinte concurso: cada um dos empregados escreveria uma cartinha a ele dizendo qual era o seu sonho de Natal.

Noveletto comprometeu-se a realizar os sonhos de 10 funcionários que ele próprio selecionaria e escolheria.


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Todos escreveram. Chegaram os sonhos mais singelos, mais caros, mais humanos, mais inocentes, mais curiosos e talvez até alguns absurdos.

Como eu parabenizei Noveletto pela inédita e feliz iniciativa, ele me confiou um maço de mais ou menos 60 cartinhas contendo os sonhos de seus funcionários.

Estou com as cartas aqui na minha mesa. Houve um funcionário que implorou: "Eu só queria pedir para o senhor, seu Noveletto, que me tire do SPC. Eu já não agüento mais não poder comprar nada em lugar nenhum só por essa dividazinha que tenho. Me tire do SPC!".

Por sinal, grande número dos sonhos consistia em querer pagar suas dívidas, às vezes até pequenas, mas sempre consideradas sufocantes.

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Outra funcionária disse que o maior sonho de sua vida seria proporcionar a cirurgia de varizes para sua mãe.

A grande maioria das cartinhas pedia a casa própria. Muitas vezes sonham conseguir material de construção, entre telhas, tijolos, lajotas, cimento, madeiras etc.

Sem dúvida alguma, a grande média de sonhos dos brasileiros é a casa própria. As pessoas querem ter um lugar seu para morar, não há nada que mais as oprima do que serem obrigadas a morar de aluguel, consideram isso uma humilhação torturante.

As cartinhas dos funcionários da Multisom foram fiéis a essa obsessão nacional pela casa própria.

É comovente ver as pessoas, em vez de poupar dinheiro para construir suas casas, irem estocando material de construção: 300 telhas, mil tijolos, 50 folhas de zinco. Vão empilhando, às vezes debaixo de um puxado de meia-água, aquele material, o seu sonho, o seu ideal, o seu destino desejado. Pilhas da esperança.

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O futebol figurou nos sonhos dos funcionários do Noveletto. Uns queriam conhecer o Beira-Rio e o Olímpico. Se possível levar lembrancinhas das lojas dos clubes.

Outros desejavam tirar fotos ao lado dos jogadores da dupla Gre-Nal.

E por aí foram indo os sonhos. Até que, três dias antes do Natal, a direção da Multisom programou que iria divulgar o resultado dos 10 sonhos classificados e realizados, pelos computadores das lojas, com a finalidade de que tivessem acesso à lista dos vencedores todos os funcionários.

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Foi tão grande a emoção do Noveletto ao ler as cartas, que ele resolveu aumentar de 10 para 50 os sonhos classificados.

No dia e hora do anúncio, os clientes das dezenas de lojas da Multisom chegaram a assustar-se: os funcionários, ao ver o resultado, explodiram em alegria por terem vencido ou em vibração pela vitória de seus colegas. Saltavam como crianças.

Os 50 vencedores foram contemplados com presentes ou em dinheiro, com seus sonhos realizados.

E o Noveletto me escreveu dizendo que foram os R$ 50 mil mais bem gastos de sua vida, levando-me a calcular que em média cada vencedor ganhou algo em torno de R$ 1 mil.

Grande idéia!

Paulo Sant'ana 14/01/2007
Jornal Zero Hora

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